A praça é do povo como o céu é do condor

Já declarei e declaro novamente: as manifestações desde o início deste
ciclo em junho do ano passado foram e são a exuberância da Democracia.
 São os Direitos Humanos exercidos em suas plenitudes. A desobediência
Civil é essencial, por ser o poder de dizer não e de reivindicar de
maneira pacífica e pacificante seus direitos básicos de sobrevivência
digna e de cidadania. É irmã gêmea do direito de greve e do
direito-dever de votar e, se quiser não votar em ninguém, anular o seu
voto.

Desde o ano passado quando nas primeiras manifestações vi uma enorme
faixa dizendo: "O gigante acordou!!!!", vi o salto de uma sinapse.
Nossos neurônios funcionam através de sinapses, uma vez ocorrida esta
sinapse, ela nunca mais volta atrás. É a partir deste novo patamar de
desejos-descobertas e novas sínteses que se perpetua e se movimenta
toda a História do autodenominado ser humano. É como no filme a
Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo. Este filme genial nos mostra os
guerrilheiros-libertadores da Argélia surpreendidos em um momento de
profundo desânimo e pessimismo pelo imediato abraço e engajamento dos
moradores da Casbah, espécie de Mangueira da Argélia. A melancolia das
forças libertadoras da Argélia naquele momento se transforma
radicalmente em entusiasmo vitorioso. Aquele momento eternizado pelo
cinema mundial foi uma sinapse: em um salto, a realidade das ideias,
paixões e ímpetos assume uma nova forma, sem retorno. Há um ano, o
povo brasileiro nas ruas deu um salto em uma sinapse de aprofundamento
total da democracia e não há recuo.

Tudo hoje em dia é na velocidade da luz, e tudo é simultaneidade, isto
é, tudo ocorre quase ao mesmo tempo-espaço. Um exemplo disso é a
atitude da volta por cima quando os grevistas metroviários ofereceram
transportar passageiros sem cobrar nada. Situações novas e que trazem
a genialidade deste povo brasileiro sem catracas! São séculos de
injustiças que pela novidade da tecnologia, da irradiação dos Direitos
Humanos, vão ser superados. Superados sem sangue de revoluções, mas
pela voz da Concórdia e do debate sagrado da Democracia! Maiorias e
minorias Amalgamadas! Neste país que é um continente e que tem um
Marechal que é índio e que se chama Rondon e que disse: "Matar jamais,
morrer se preciso for!"

Quero concluir este texto com um verso da minha nova canção em
parceria com o José Miguel Wisnik que diz: A liberdade é bonita,mas
não é infinita. Me acredite, a liberdade é a consciência do limite!

 

Texo escrito por Jorge Mautner, publicado na Folha de São Paulo

Share