Sobre a Degradação Cultural das Sociedades de Massa

Por Ottaviano de Fiore

Há mais de meio século, um famoso médico e político alemão, perseguido em seu país, teve de refugiar-se no Brasil. Desempregado, comendo o amargo pão do exílio, escreveu algumas cartas interessantes1 sobre a miséria cultural das sociedades modernas. A sociedade industrial, afirmava ele, desenvolveu "proletários de colarinho que possuem a formação de quem mal sabe ler e escrever e que, na forma de servos de mesas de escritórios e funcionários inferiores, foram criados em escala industrial pela sociedade industrial". Matéria prima perfeita, concluía, para o trabalho de nivelamento cultural realizado pelos meios de massa que embotam a capacidade intelectual e cujas maiores vítimas são os jovens, muito mais indefesos e corruptíveis do que os trabalhadores.

Essas podem parecer afirmações de um autor da Escola de Frankfurt ou de algum contraculturalista radical. São, entretanto, de Menghele, o famosíssimo médico de Aushwitz, autor de cruéis experiências pseudo-científicas com prisioneiros. Trata-se de fato de chavões da subliteratura catastrofista que, desde o movimento de reação à Revolução Francesa, alimentam o niilismo ocidental.

O pessimismo cultural despreza a civilização de massa, a técnica, a produção industrial, o individualismo, o racionalismo, o comércio, o materialismo. Despreza, especialmente, o hedonismo que ele associa com degradação moral. Preza, pelo contrário, o sagrado, o nobre, o tradicional, o heróico, o comunitário e, em especial, a transcendência e o ascetismo – que ele associa com superioridade moral.

 

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