Primordial, visceral, este livro. O autor nos coloca sensorialmente e literalmente dentro do espaço-tempo da densa Idade Média. Começa a nos conduzir para um mundo onde se ouvia o mínimo ruído em noites que não tinham nenhuma iluminação. Mostra como, em crises de acesso religioso, uma cidadezinha começava a rezar na rua principal. Dali a pouco, a reza continuava durante uma semana e mais pessoas se juntando a este momento de fervor. Resultado: depois de dois ou três meses, a situação se torna insuportável, o Vaticano manda emissários religiosos especiais para dissuadirem a população a parar de rezar: quase inútil.
Um outro episódio: dois nobres que têm seus latifúndios se enfrentam por vaidade de poder. Um dele, para mostrar como é poderoso, diz: "só para mostrar como sou mais poderoso que você, vou matar meu melhor cavalo de raça." O seu vizinho, afrontado: "eu vou matar meus dez melhores cavalos de raça." E assim por diante até destroçarem todos seus animais, gatos, cavalos, galinhas.
Outra história. Dois nobres estão em guerra, um deles está vencendo a batalha e imediatamente ergue uma capela para agradecer a Deus pela vitória. Em seguida, o outro que estava perdendo aproveita a ocasião e o derrota.
Um outro episódio. Santos que agora vão substituir os antigos mártires, exibem-se num misto de profunda fé e vaidade enlouquecida, como faquires que resistem às forças da natureza. Um fica num pedestal assistindo a orgias e tem que permanecer casto, mas isso não basta, e outro se oferece para ser picado vivo por mosquitos até morrer.
Isso tudo mostra como foi difícil a mudança da natureza humana do paganismo para inaugurar os novos tempos em que os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros.
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