por Jorge Mautner
Parmênides diz que tudo está parado, Heráclito afirma que tudo está em permanente mutação e movimento, e Martin Heidegger diz que ambos têm razão, é tudo ao mesmo tempo.
Caetano Veloso é assim, seus neurônios são untados de paixão humana, e ao mesmo tempo se conectam com todos os assuntos e mistérios, ciência, poesia, História, metafísica, geografia (humanizada por Milton Santos), músicas (todas elas, de todos os países e de todas as épocas). A inspiração de Caetano vem de todos os lados e se dirige para todos os cantos. Atuante, militante, político e engajado até as raízes do ser.
Ele e Gil, ao voltarem do exílio, foram fundamentais para a democratização, através dos shows irradiava-se a mensagem de que chegaria a democracia. O ápice disto foram os shows em Águas Claras, no interior de São Paulo, inclusive com a presença de João Gilberto.
Caetano logo em seu início de carreira (em seguida foi preso e exilado) afirma em uma de suas canções: "Eu organizo o movimento". Sim, ele organiza o movimento o tempo todo.
Sua obra é profética e exaltadora do Brasil Universal da Amálgama de todas as cores. Suas letras não são letras, são poesias com P maiúsculo. Seu filosofar é pensamento profundo, dia e noite, noite e dia.
Em todas as parcerias ele se transfigura 50% no parceiro, e os outros 50% são puro Caetano levando a canção para todas as dimensões.
Sua receptividade absoluta absorve as informações e imediatamente as devolve em forma de beleza de arte infinita, num átimo de instante.
Dou-lhe uma poesia e no dia seguinte já é música! Cantarolo um início de canção com letra pela metade e no dia seguinte ele já a completou, seguindo minha intenção melódica e ao mesmo tempo mudando-a, sutilmente, assim como acrescentando (letra-poesia) a ela, dando-lhe conclusão definitiva!!!!
Seus neurônios têm também olhar de cineasta, tudo também é vislumbrado como eterna paisagem mutante sempre inspirada no coração do povo brasileiro, numa paisagem de floresta amazônica, das praias da Bahia, da selva de São Paulo, dos braços abertos do Cristo Redentor e de todas as outras paisagens, e em tudo paira dominante a mensagem dos direitos humanos, incluindo a desobediência civil, tudo aquilo que veio do sermão da montanha de Jesus de Nazaré.
Jesus de Nazaré e os tambores do candomblé!!!!
Texto escrito especialmente para O Globo em 23 de Junho de 2012 em homenagem aos 70 anos de Caetano Veloso.
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