Jorge Henrique Mautner, dezenove anos. Ele mesmo um de seus personagens, do qual acaso seria possível suprimir o nome, mas não o tempo que sua vida milita, quase sempre entre uma e outra sortida de motocicleta de zumbido violento, cavalo mecânico nas ruas da Cidade Nova. Nesse mundo que abre as fauces para um futuro "barbaramente" novo, os personagens se desenham em traços orgânicos, feitos de musculatura e suor, esbatidos num cenário natural de folhas e umidade. A cidade é apenas a passagem vertiginosa para um campo sempre próximo, sob um céu pródigo de chuvas, para que numa paisagem borrada de água e atavismo alguém comungue com a terra antiqüíssima.
Mautner nunca segue o pensamento em linha reta. Tudo nele é tortuoso como uma corrida de motocicleta contornando obstáculos. Ele é um experimentador de situações, um militante de todos os partidos, ora S. Jorge, ora o dragão. E como o oroboro, busca morder a cauda das origens, numa nostalgia nem sempre confessada de integração. A ação dramática de suas histórias é uma vida partida em pedaços que alguém tenta recompor, intrometidamente. E não o consegue, para exultação e sofrimento do autor.
Os fragmentos aqui publicados de livros de George Henrique Mautner darão uma idéia do talento desse jovem que, para além da linguagem herdada e dos propósitos definidos de uma cultura, enfrenta o caos de um novo por dizer.
(texto publicado na edição 13 da revista Diálogo, dezembro de 1960)
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